Paralisação
Greve dos caminhoneiros na Zona Sul será decidida neste sábado
Após polêmicas e nova alta do diesel, paralisação deve ser confirmada para começar na segunda-feira
Carlos Queiroz -
A promessa está mantida: a semana deverá começar com greve nacional dos caminhoneiros. Após polêmicas que envolvem o anúncio do auxílio de R$400,00, falas do ministro da Infraestrutura e um novo aumento no preço do diesel, o clima favorável à paralisação tem aumentado. De acordo com o Sindicato dos Transportadores Autônomos de Bens de Rio Grande (Sindicam), uma reunião ainda avaliará a adesão na Zona Sul, mas a entidade aponta previamente apoio ao ato de segunda-feira.
O estado de greve foi declarado há duas semanas, devido à falta de atendimento às pautas da categoria. Entre as reivindicações está a redução do preço do combustível e a revisão das políticas de preços adotadas pela Petrobras. Em contrapartida, nesta semana houve um novo reajuste, de 9,15%, no valor do diesel, ponto crucial para a decisão.
É a primeira vez desde o início do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) que entidades como a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) e a Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava) se colocam a favor de uma greve. Embora não de forma unânime, entidades do Rio Grande do Sul ainda mantêm uma fala cautelosa. Segundo a CNTTL, o Estado possui cerca de 250 mil caminhoneiros autônomos em atuação.
Presidente do Sindicam, Dieck Sena, afirma que uma reunião acontecerá as 9h deste sábado com a categoria para entender o posicionamentos do profissionais da Zona Sul. "Não compete ao sindicato decidir, mas a decisão dos nossos associados, de toda categoria. Como sindicato, representamos toda a categoria, mas apoiamos ele [ato]", aponta.
Auxílio diesel
Na semana passada Bolsonaro anunciou o auxílio diesel, benefício de R$ 400,00 que alcançaria 750 mil caminhoneiros, com o objetivo de amenizar os impactos gerados pelos aumentos consecutivos no valor dos combustíveis e pela falta de atualização no preço dos fretes. Entretanto, na última quarta-feira o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, afirmou que o governo federal poderá desistir do aporte financeiro aos profissionais "diante da insatisfação da categoria com a proposta". Segundo ele, o projeto ainda não foi totalmente descartado, e, embora o baixo valor oferecido, este representaria "uma ajuda importante".
O responsável pelo Sindicam afirma que o auxílio representa menos de 1% do gasto. "A categoria enxergou como uma afronta do governo. Isso é equivalente aos pequenos incentivos que estão acostumados a dar para o pessoal que passa por qualquer dificuldade - e estes realmente aceitam, pois qualquer ajuda é sempre bem vinda. Mas quando se converte isso ao óleo diesel e ao combustível, não é nada". Ele afirma que o setor esperava algo mais "concreto", como uma das pautas apontadas, o fim do Preço de Paridade de Importação (PPI). "Temos um presidente que fala muito em patriotismo, mas hoje em dia, com essas políticas de preços da Petrobras, ele só está beneficiando o estrangeiro e não o brasileiro", finaliza.
Falas polêmicas
Outra declaração do ministro acabou acirrando o clima entre governo e caminhoneiros. Após almoço com a Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo, Tarcísio de Freitas afirmou a jornalistas que os motoristas precisam se reinventar e procurar empregos em empresas de transporte, em vez de continuarem como autônomos. Ele ainda afirmou que a categoria precisa se organizar para "sobreviver", através da cobrança de fretes mais altos, repassando os aumentos de combustíveis ao contratante do transporte. "Tem que aprender a repassar os custos de produção para o seu preço. Às vezes quem destrói o frete é o próprio caminhoneiro", disse. O ministro também afirmou não acreditar na ameaça de greve geral e voltou a criticar os profissionais.
Presidente da Frente Parlamentar Mista dos Caminhoneiros Autônomos, o deputado federal Nereu Crispim (PSL) afirma que "o ministro estabeleceu um clima de confronto com os caminhoneiros autônomos, inclusive com alguns que se sentem traídos pelo governo". Sena reafirma que a fala não foi bem recebida pela categoria. "Foi mais uma falácia do ministro, ele não sabe a história do caminhoneiro. Daquele caminhoneiro nato que foi ensinado desde pequeno pelos seus pais, de muitos que pagaram faculdade de filhos através de caminhões. Enxergamos isso como uma fala em forma de extinção, ele está querendo apagar uma história através da qual o país foi desenvolvido".
Embora o clima de tensão, na quinta-feira, em uma reunião entre líderes de caminhoneiros e Tarcísio de Freitas, este sinalizou estar disposto a construir pontes entre a categoria e demais poderes. No encontro foram expostos os 14 pontos levantados pelos condutores e Freitas afirmou que "não medirá esforços para atender" aqueles que forem de sua competência direta. Já em relação às outras demandas, haverá uma tentativa de aproximação entre os caminhoneiros e os respectivos responsáveis.
Congelamento ICMS
Nesta sexta-feira, o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), aprovou o congelamento do valor do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobrado nas vendas de combustíveis. Até então, o preço médio ao consumidor era calculado a cada 15 dias pelos estados com base nos preços destes. Com a decisão, o cálculo do ICMS, feito com base no Preço Médio Ponderado ao Consumidor Final (PMPF), ficará congelado até janeiro do ano que vem.
Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), entretanto, mostram que o que mais pesou para o aumento dos valores foram os reajustes feitos pela Petrobras. O preço da gasolina comum, por exemplo, é composto por cinco itens: preço do produtor (refinarias da Petrobras e importadores), preço do etanol (o combustível que chega aos postos tem 73% de gasolina A e 27% de etanol), tributos federais (PIS, Cofins e Cide), imposto estadual e distribuição, transporte e revenda.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário